OS ANOS DO SILÊNCIO
Entre os anos de 1941 e 1944, quando o Brasil entrou na
guerra
contra o Eixo, as manifestações nacionalistas que já eram
grandes
desde que Getulio
Vargas subiu ao poder, se tornaram maiores.
Isso trouxe sérias conseqüências para as regiões de
colonização.
Foram criadas ligas da Defesa Nacional e aqui em Caxias,
manifestações anti-italianas se tornaram freqüentes.
A maioria dos colonos e seus descendentes estavam
acostumados
a falar em seus dialetos e mal sabiam o português.
Em função da repressão, criou-se a auto censura
do medo e então imperou o silêncio, pois em público, os
italianos não sabiam se expressar no nosso idioma
então, permaneciam calados
Minha avó paterna, Cecilia Fonini Mancuso em certa ocasião para visitar seu filho Clemente na cidade de Vacaria, para isso precisou de um salvo conduto expedido pela Repartição Central de Polícia. E minha avó nasceu no Brasil, seu pai Clemente Fonini nasceu na Itália e sua mãe, Alexandrina Von Schlabrendorff era filha de alemães. Perseguiam até segunda e terceira geração. Renan C. Mancuso
Em 22 de Julho de 1943 a cidade de Caxias do Sul
foi abalada
por uma violenta explosão.
A metalúrgica Gazola Travi & Cia, trabalhava
para o
governo na montagem de bombas e granadas.
Em torno das dez horas da manhã, de
uma forma até
hoje não muito bem esclarecida, uma violenta explosão
botou
abaixo as instalações da metalúrgica. A maioria
dos funcionários da empresa era
composta de jovens
de 17 a 22 anos, do sexo feminino. Além dos feridos, seis
mulheres morreram; Graciema Formolo, Irma Zago-
Júlia Gomes, Maria Bohn, Olívia
Gomes e Tereza
Morais, além de Odila Goubert que ficou gravemente ferida.
Meu pai, Reno Mancuso, na época era fotógrafo da
polícia e
foi convocado para fazer o levantamento
fotográfico. Depois de reveladas as
fotos e entregues
as autoridades, meu pai resolveu fazer cópias e em
virtude da
inocência dos tempos antigos, decidiu
exibi-las na vitrine de seu estúdio.
Evidentemente
que se formou uma fila enorme para ver as fotos.
Não poderia dar
em outra coisa, as conseqüências
foram sérias. Não demorou muito para que uma
viatura do exército trazendo um oficial e alguns
soldados, viesse até o
estúdio, recolhessem as fotos, os
negativos e levassem meu pai para prestar
esclarecimentos. Certamente não encontrando
nada mais do que um pequeno deslize
de atitude
meu pai foi liberado, mas as fotos e os negativos
nunca mais foram
vistos e nem se tem conhecimento.
Nos tempos atuais poucos se lembram do episódio
da “explosão da Gazola”, mas antigamente o assunto
perdurou por anos.
Lembro quando eu ainda era
criança, no final dos anos cinqüenta em torno de
1959 ou 1960, eu tinha 8 ou 9 anos e ouvi uma
conversa em algum lugar a
respeito da explosão
da Gazola e nessa conversa, falavam que havia sido
sabotagem
de grupos fascistas de Caxias. Como disse
antes, acho que o acidente da Gazola jamais foibem
esclarecido e acabou sepultado junto com
as jovens
que morreram. Nunca esqueci do que ouvi quando
criança, mas
nunca lembrei quem falou em sabotagem
e sempre achei que fazia sentido.
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