O antigo Parque de Exposições da Festa da Uva em 1950, onde hoje localizam-se os hipermercados Big e Zaffari. Foto: Reno Mancuso, acervo pessoal de Renan Carlos Mancuso, divulgação
Difícil de acreditar, mas o parque da foto acima dominou boa parte do quarteirão onde hoje estão localizados os hipermercados Big e Zaffari – entre as ruas Vinte de Setembro e Ernesto Alves. O terreno, que pertencia à antiga Cooperativa Madeireira Caxiense, extinta em meados dos anos 1990, abrigou a Festa da Uva de 1950.
Apesar do grande sucesso daquela edição – a primeira após o hiato de 13 anos decorrente da Segunda Guerra Mundial –, o encerramento ficou marcado por um incêndio que devastou boa parte da área. Conforme relatos do Pioneiro da época, o sinistro deu-se na madrugada de 17 de março, às vésperas do final da festa.
Causado possivelmente pela explosão de um fogão – a perícia não foi conclusiva –, o fogo consumiu todo o Palácio de Festas, junto ao recinto da Exposição Agro-Industrial. No local funcionavam o restaurante, a bomboniére e a boate, palco para conjuntos de música italiana, portenha e afro-cubana, além de apresentações de dançarinas e bailarinos acrobáticos.
Já o Pavilhão Histórico-Cultural, que então homenageava os 75 anos da colonização italiana, foi salvo a tempo pelos bombeiros. Ninguém ficou ferido.
Espaço que incendiou era palco para diversas atrações artísticas, diariamente divulgadas na imprensa. Foto: reprodução
Atrações do Palácio de Festas incluíam tenores, sopranos, grupos latinos, franceses e até bailarinos acrobatas. Foto: reprodução
Pavilhão Histórico-Cultural não chegou a ser atingido pelas chamas. Foto: Reno Mancuso, acervo pessoal de Renan Carlos Mancuso, divulgação
O fim do “Duque”
Além das estruturas em madeira, as chamas consumiram uma relíquia dos céus: o Duque de Caxias, primeiro avião de treinamento doado ao Aeroclube pela Campanha Nacional da Aviação, lançada pelo governo de Getúlio Vargas, em 1941.
Exposto no pavilhão, o conhecido “Duque” teve sua fuselagem totalmente destruída, restando apenas o motor e o esqueleto – exatamente no momento em que o Aeroclube receberia o milésimo avião doado por essa campanha.
Crônica publicada pelo jornalista Mario Gardelin no Pioneiro de 65 anos atrás destacava o episódio, citando ainda comentários irônicos de populares defronte às labaredas:
– Ai, meu Deus, sussurrou um músico, lá se foi a minha bateria.
– Como ficou o Duque de Caxias?
– Virou conversível!
– Como ficou o Duque de Caxias?
– Virou conversível!
Beleza em 1950: o parque todo iluminado à noite. Foto: Reno Mancuso, acervo pessoal de Renan Carlos Mancuso, divulgação
Belíssimo pórtico iluminado a gás neon era um atrativo a mais para conferir as várias atrações do parque, desde a exposição de uvas e os cantores até a roda-gigante. Foto: Reno Mancuso, acervo pessoal de Renan Carlos Mancuso, divulgação
As imagens
Os registros deste post são do fotógrafo Reno Mancuso (1919-1974). Conforme matéria do Pioneiro de março de 1950, o Atelier Mancuso foi o primeiro a ter permissão para entrar no recinto logo após a interdição pela polícia – na época, Reno também prestava serviços à polícia.
As imagens do sinistro feitas por ele hoje se encontram anexadas ao processo judicial. O acervo do Poder Judiciário – com esse processo, inclusive – foi doado à Universidade de Caxias do Sul e hoje integra o Centro de Memória Regional do Judiciário, junto ao Instituto de Memória Histórica e Cultural (IMHC) da UCS.
Há 65 anos
* A Festa da Uva de 1950 elegeu uma rainha de… Bento Gonçalves, Teresa Morganti, o que causou certa celeuma entre os caxienses. Desde então, o concurso privilegiou candidatas nascidas em Caxias.
* A Festa da Uva de 1950 elegeu uma rainha de… Bento Gonçalves, Teresa Morganti, o que causou certa celeuma entre os caxienses. Desde então, o concurso privilegiou candidatas nascidas em Caxias.
* Foi em 1950 que teve início a tradição de um presidente da República inaugurar a festa. Eurico Gaspar Dutra conferiu os desfiles pela Av. Júlio de Castilhos e cortou a fita inaugural.
* Em 25 de fevereiro de 1950, durante o período da festa, foi lançada a pedra fundamental para a construção do Monumento ao Imigrante, atração inaugurada na edição de 1954.
* O Cine Real, em São Pelegrino, foi inaugurado em fevereiro de 1950 especialmente para a movimentação artística em torno da festa.
Presidente Eurico Gaspar Dutra (ao centro, atrás), o prefeito de Caxias, Luciano Corsetti (ao centro, à frente), e diversos prefeitos da região defronte ao palanque oficial, instalado junto à antiga Praça Ruy Barbosa. Foto: Reno Mancuso, acervo pessoal de Renan Carlos Mancuso, divulgação
Em 1950: o presidente Dutra entre as soberanas e as vindimeiras da festa, que não ocorria desde 1937. Foto: Reno Mancuso, acervo pessoal de Renan Carlos Mancuso, divulgação
Corso alegórico pela Av. Júlio de Castilhos saudou o presidente. Ao fundo, à esquerda, o Clube Juvenil, ainda sem o terceiro pavimento. Foto: Reno Mancuso, acervo pessoal de Renan Carlos Mancuso, divulgação
Rainha Teresa Morganti, de Bento Gonçalves, e as princesas. Foto: Reno Mancuso, acervo pessoal de Renan Carlos Mancuso, divulgação
Desfile de carros alegóricos pela Júlio teve a participação de nove cidades da região, além de bairros e distritos. À esquerda, o antigo Cine Central. Foto: Reno Mancuso, acervo pessoal de Renan Carlos Mancuso, divulgação
Música, corais e diversas atrações artísticas diariamente atraíam o público ao Parque de Exposições. Foto: Reno Mancuso, acervo pessoal de Renan Carlos Mancuso, divulgação
Registro de um almoço oficial com autoridades. Foto: Reno Mancuso, acervo pessoal de Renan Carlos Mancuso, divulgação
Fiando e cantando: as pioneiras imigrantes eram destaque no Pavilhão Histórico-Cultural, que recordava os 75 anos da colonização italiana na região. Foto: Reno Mancuso, acervo pessoal de Renan Carlos Mancuso, divulgação
A exposição de uvas e produtos típicos era outro atrativo do parque. Foto: Reno Mancuso, acervo pessoal de Renan Carlos Mancuso, divulgação
Colaboração
As imagens deste post foram disponibilizados por Renan Carlos Mancuso, um dos filhos do fotógrafo Reno Mancuso e mantenedor do blog www.caxiaspormancuso.blogspot.com.
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(Foto: Bruno Zulian/ Divulgação)
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Eu era menina e estava na sacada da Casa Avenida , na calçada em frente do Clube Juvenil , assistindo o lindo desfile daquele ano.